As metas de Simone Leite, eleita presidente da Federasul
terça-feira, 14 de junho de 2016
Determinada a quebrar paradigmas, Simone Leite rompeu mais um modelo na história empresarial gaúcha: ela será a primeira mulher a assumir a Federasul em 88 anos, a primeira representante do interior a comandar a entidade e a mais jovem líder empresarial à frente de uma Federação no Rio Grande do Sul.
Simone Regina Diefenthaeler Leite, empresária, natural de Estância Velha (RS), ex-professora de História, foi eleita presidente da Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul (Federasul), em pleito realizado em 13 de abril, na primeira disputa eleitoral na história da entidade em 88 anos. Ela recebeu 27 votos do Conselho Superior da entidade, enquanto o seu adversário Paulo Afonso Pereira, 19.
Ex-secretária de Desenvolvimento Econômico do município de Canoas, da região Metropolitana de Porto Alegre, ela foi responsável pela criação do Escritório do Empreendedor, o que resultou na redução do ISSQN, medida que contribuiu para a diminuição da informalidade, da inadimplência e o aumento da arrecadação.
Nas últimas eleições majoritárias, ela concorreu ao Senado pela coligação Esperança que Une o Rio Grande (PP/ PRB/ PSDB/ SD), quando recebeu 606. 329 votos, correspondente a 10% do eleitorado.
Primeira mulher a presidir a Federação, onde já atua como vice-presidente de Integração desde 2012, ela concedeu a seguinte entrevista a Revista Empresa Brasil.
Quais são as primeiras ações que pretende realizar como presidente da Federasul?
Pretendo intensificar o programa Pertencer. Como vice-presidente de Integração da Federasul, desenvolvi essa área que oferece produtos e serviços para as filiadas, com foco na sustentabilidade financeira e ênfase nos núcleos setoriais. Trata-se de uma ação que incrementa o número de associados e estimula a participação dos empreendedores.
Também vou focar nosso trabalho no Movimento Empresarial, que propõe uma visão sobre pautas coletivas, com firmeza de propósitos, renovação de lideranças, ética, idealismo, atitude e iniciativa. Tudo com o objetivo de apontar soluções sustentadas em trabalho, produção, moralidade pública e privada.
Como incentivará a participação do interior nas decisões da Federação?
Expondo com coragem o posicionamento da classe produtiva e defendendo os ideais e as mudanças que estimulam o desenvolvimento do nosso Estado. Lembramos que somos uma entidade com independência de posições. Através do Movimento Empresarial, as lideranças regionais poderão se integrar e ficar mais próximas das decisões políticas. Sabemos que o poder político está na capital, mas a geração de riqueza está no interior. Existem muitos gargalos, principalmente na infraestrutura e nas atividades empresariais, e os anseios da base da Federasul precisam ser atendidos e representados.
Quais devem ser as prioridades da agenda empresarial?
No âmbito do governo federal, coloco em primeiro lugar a moralidade e gestão pública. Na sequência, além de perseguir o equilíbrio fiscal, é imprescindível deflagrar as reformas administrativa, tributária e previdenciária. Cito ainda o resgate da confiança do empresário para a retomada dos investimentos e a aprovação da lei de terceirização.
E no caso do governo do estado?
É preciso desburocratizar, facilitar o trabalho dos empresários. Assim, precisamos de uma melhor infraestrutura, o que pode ser feito por meio das Parcerias Público-Privadas e das concessões. É preciso ainda reduzir a carga tributária a fim de estimular os investimentos. Cito ainda como ações necessárias o fim do Imposto de Fronteira, maior agilidade na emissão de licenças ambientais, ajustes na Lei do Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndio. Embora se reconheça um esforço para enfrentar essa questão, os resultados são apenas pontuais. Precisamos avançar ainda muito. A cobrança de Impostos de Fronteira afeta diretamente as MPEs. Conseguimos aprovar a lei na Assembleia, mas não foi implantada pelo governo. A questão do PPCI também afeta as MPEs. E o ajuste do Salário Mínimo Regional, acima das possibilidades econômicas, estimula a sonegação e o trabalho informal.
Com uma economia baseada na agropecuária e na indústria, de que forma a Federasul atende a esses setores?
Com projetos específicos e atendendo ás demandas regionais, de forma a estimular esses mercados planejando ações em bloco com as demais entidades representativas do RS, como a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) e a federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Quais são os principais entraves para o crescimento do estado? E as principais oportunidades?
A posição geográfica, a sua infraestrutura e custo RS são os maiores entraves, enquanto que a mão de obra qualificada, agricultura, a diversificação industrial e as macrorregiões desenvolvidas são as áreas de oportunidades.
Tradicionalmente, são os homens que ocupam as lideranças, seja na área empresarial, seja entre as entidades. Como foi a sua caminhada como líder? Qual é a sua característica?
Fui a primeira mulher eleita presidente da Câmara de Indústria e Comércio de Canoas e, agora, a primeira mulher eleita presidente de uma federação no estado do RS, um estado machista. Essa questão de gênero, em pleno ano de 2016, não deveria ser pautada, mas é real o preconceito. Sofri com o preconceito por ser jovem e mulher, mas isso só me estimulou a seguir em frente e conquistar os espaços. Penso que muitas mulheres têm condições de assumir grandes desafios, tanto na política empresarial quanto na política partidária, mas o problema, na minha opinião, é que as mulheres são muito exigentes consigo mesmas e não se sentem prontas para isso. Na nossa diretoria, vamos ter muitas mulheres atuando com responsabilidade, autonomia e liberdade.
É uma grande honra, mas sei que é uma grande responsabilidade entregar resultados concretos do nosso trabalho. Acredito que carisma, coragem, determinação, valores e paixão pelo que faço me fizeram atingir meus objetivos. Minha característica: acredito muito na união, no fortalecimento do trabalho integrado. Sou uma líder que opta em ser uma pequena parte de um grande projeto, em vez de ser dona de uma ideia que não se realiza.
Fonte: Revista Empresa Brasil – Maio de 2016