Diretor de Cultura do CES é destaque em festival

terça-feira, 10 de março de 2015

O diretor de cultura do CES – Tadeu Martins participou do 13º Bivaque da Poesia Gaúcha de Campo Bom – RS, com a poesia denominada “O Tocaio Está Voltando”. Dez poesias inéditas de diversas cidades do Estado com interpretações emocionantes concorreram no festival. Porém, o talento de Tadeu Martins foi destaque e sua poesia foi classificada em primeiro lugar tendo como declamador Delci Oliveira, João Bosco Ayala no violão e Nilton Júnior da Silveira no Teclado.

 

O TOCAIO ESTÁ VOLTANDO

 

A noite abriu os olhos debilitados.

 

E veio caminhando surrada de ventos,

até estafar-se aos pés da aurora,

resignada a chorar uma librininha matinal.

 

 Tio Bonifa emponchado,

assobiando sem compromisso,

falou algo de cachorro ao Piraju,

disse que o chuvisco era para molhar bobo

e foram pegar cavalo.

(lembravam demora e esperança nos andares).

 

Algumas roupas que pousaram no tempo,

amanheceram pingando.

 

Os caraguatás e os alecrins

na cumplicidade da noite,

agarrados como coisas de campo,

avisam que as unhas dos arados

não vão tirá-los dali.

 

O dia está escondido atrás da cerração,

com vontade de cochilar mais um tanto.

Receoso de se levantar da várzea...

O dia está escondido...

Tudo possui mais alma do que corpo.

O dia chega depois da geada preta

por um espanto de luz.

A manhã chuvischorada

estende seus panos cinzas

no quarador dos contos.

 

Reaparecem

Tio Bonifa e Pirajú,

saindo da paisagem,

prestativos e honestos

a receberem o bom-dia

pelo abano da minha mão.

 

O cavalo escarceava pelo travessão do buçal.

 

 

- Quequeachô!

O Pai-veio andou dizendo

que o céu tava percisando de poetas

para  salvá a humanidade.

( e recebi um riso dentro de si).

 

 O Tocaio tá voltando!

A carne dele pede pátria.

O espírito dele solicita práticas de vida.

 

O Tocaio sabe

que renascer vale a pena.

Que tudo se levanta pela palavra.

 

Que vale a pena espantar para longe

a tropilha de todos os pelos da descrença.

 

O seu rincão faz parte do universo

e o que crê está na alma de um poço,

que as águas de balde e as águas dos olhos

são filhas do vale a pena.

 

Os campos queridos estão vivos,

recebendo as viagens e os ventos,

onde se agaucharam em suas fainas

com espaço e tempo.

 

Andantes no infinito que se mede

- homens e versos –

em seus romances,

fazendo parte dos entardeceres.

 

Homens e versos das manhãs de maio.

Heróis transitórios sobre a terra,

para um sonho breve.

 

Ah! Tocaio...

Amigo nosso das madrugadas lubunas.

 

Ainda fraternizo o conforto do seu abraço.

 

Ainda medito em seus causos.

 

Atento-me em seu olhar oblíquo

por cima dos óculos,

apreciando uma idéia.

 

Adoto meus chimarrões em suas cuias.

 

Voltando a reculutar serviços

para ajustar nos afazeres do amor,

os calos e as colheitas.

 

A andança constante da vida

é uma promessa das eras.

 

A estrada se chama Sempre

de chegadas e partidas na perseverança de Deus.

 

De certo está voltando ao Rio Grande

pelo dia típico amanhecido

e por tudo que amou dos ares do sul.

 

Voltando a destinar  seus sonhos,

depois de um livro fechado.

 

Voltando a nomear suas verdades.

Voltando a compor os seus agoras.

 

Ah! Tocaio Ferreira!

Amigo nosso de alma meio louca.

 

O mundo tem um costume

de assoprar as brasas.

 

Que estranho!

Chega uma pergunta por onde andou

no algo de um vôo branco,

festivo e telúrico,

pedindo um alarido,

com vontade de relembrar setembros

para reencenar sua canção em flor.

 

Agora

nem homem, nem versos das manhãs de maio.

Pelo menos

por enquanto...

 

- Há um choro de criança nascendo.

 

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