Distanciamento custa R$ 20 bi por semana, calcula ministério

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Para cada semana de distanciamento social por conta do coronavírus, o Produto Interno Bruto (PIB) do país deve registrar perda imediata de R$ 20 bilhões, aponta estudo divulgado ontem pelo Ministério da Economia.
Nota técnica produzida pela Secretaria de Política Econômica da pasta ainda afirma que a ampliação do período de restrições eleva as perdas da economia como um todo. A projeção considera que, quanto maior o prazo de isolamento, maior o número de falências e demissões. A medida também amplia o endividamento, diz a nota.

Ontem, pela primeira vez, o governo Jair Bolsonaro reconheceu formalmente que o país terá retração da economia em 2020. A projeção oficial para o PIB deste ano foi revisada de alta de 0,02% para retração de 4,7%.
Se confirmado, um recuo do PIB nesse patamar será o maior já registrado pelo IBGE, que tem série histórica iniciada em 1901.

O governo estima recuo da atividade um pouco maior do que o apontado nesta semana pelo mercado. O boletim Focus, divulgado na segunda-feira pelo Banco Central, mostra que as instituições financeiras esperam retração de 4,11% na economia neste ano. Esse número vem sendo revisado para baixo semanalmente.

A nova projeção do governo ainda é otimista se comparada com avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgada em abril, que aponta recuo de 5,3% do PIB brasileiro em 2020.

Técnicos do ministério afirmam que a projeção atual será recalculada para baixo se as políticas de distanciamento se alongarem para além de maio.
- Essa nota não tem conotação de crítica sobre as políticas de isolamento social. Essa nota foi feita exclusivamente para mostrar o custo econômico dessa política e fazer as estimativas para o PIB - disse o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida.

Desemprego
Segundo a secretaria, os custos atuais da crise são de tal magnitude que, mesmo com recuperação rápida da atividade após a pandemia, não seria possível impedir a retração da economia em 2020.

"Tal projeção foi feita assumindo-se que as políticas de distanciamento social durem até o final de maio. Caso se prolonguem, o efeito econômico direto e o efeito indireto serão acentuados", afirma o documento.

Na avaliação do subsecretário de Política Macroeconômica, Vladimir Kuhl Teles, eventual prorrogação das medidas restritivas para o fim de junho deve levar o PIB de 2020 à queda superior a 6%.

Segundo ele, o início da retomada deve ser visto a partir do terceiro trimestre deste ano. Para 2021, a estimativa é de alta de 3,2% do PIB, mas isso não será suficiente para levar a economia ao patamar registrado antes da crise.
- Nossa projeção leva em conta uma crise severa, com recuperação lenta e impacto permanente no longo prazo - disse.

A pasta trata como efeito direto a paralisação da produção e a queda mais forte do PIB. Como resultados indiretos, aponta o maior número de empresas decretando falência, o maior endividamento público e privado e o aumento na taxa de desemprego.

De acordo com a secretaria, esses fatores geram resultado cíclico. Isso porque os efeitos indiretos acabam por provocar recuperação mais lenta e queda mais acentuada no PIB de longo prazo.

No fim de março, o governo já havia cortado as estimativas oficias para o PIB de alta de 2,1% para crescimento próximo de zero. A crise se agravou a partir da segunda quinzena de março, quando cidades e Estados passaram a aplicar medidas restritivas de circulação e fechamento do comércio.

Desde então, segmentos da economia passaram a registrar perdas e buscar ajuda do governo. Sob os efeitos da pandemia, o setor de serviços, por exemplo, apesentou recuo recorde de 6,9% em março.

No mercado de trabalho, as demissões registraram alta. O total de pessoas demitidas e consideradas aptas ao seguro-desemprego foi de 1,5 milhão em março e abril, salto de 31% em relação ao período equivalente de 2019. Em medida autorizada pelo governo, o número de trabalhadores com contratos suspensos ou reduzidos durante a pandemia ultrapassou 7 milhões.
Déficit
A nova revisão vai afetar as contas do governo. Com a perspectiva de que a economia vai desabar neste ano, as estimativas de arrecadação tributária devem sofrer forte queda, criando descompasso ainda maior no orçamento.
Está prevista para amanhã a apresentação da nova estimativa para as contas públicas neste ano. Cálculos feitos antes da derrubada na projeção do PIB já indicavam que o déficit primário do governo federal superaria R$ 600 bilhões neste ano.

A ampliação do descasamento entre as receitas e os gastos, desta vez, não vai forçar o Executivo a cortar verbas de ministérios. Isso porque o governo pediu ao Congresso o reconhecimento de estado de calamidade pública, que vale até 31 de dezembro deste ano.

Fonte: Zero Hora

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